segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A VIDA É UM MISTÉRIO

Com um olhar alternativo sobre a vida em suas infinitas matizes, acho fácil concluir que tudo é vão e sem sentido. Sim! Porque qual é o benefício que tiramos de mundo cheio de injustiças, corrupções, desigualdades, perversões e misérias?

Teologicamente falando estamos aqui para nos desenvolver nas virtudes necessárias para vivermos em paz no além túmulo, como uma lapidação temporária que transformará um diamante bruto numa bela pedra preciosa.

O problema é que quando analisamos mais profundamente a vida, percebemos que a natureza e os animais também sofrem. Daí questionamos: será que os animais também estão sendo lapidados? Claro que não! Só quem é racional pode receber algum tipo de aperfeiçoamento para um suposto pós-túmulo.

Só aí já eliminamos centenas de religiões, nos restando poucas alternativas que ensinam que os animais reencarnam como pessoas após algumas dezenas de vidas.

Como nem tudo o que é lógico é verdade, resta-nos concluir que nada sabemos e que a vida é um mistério impenetrável, ao menos por enquanto.

Não penso na vida com suas diversidades humanas em termos de justiça ou injustiça, pois num mundo onde tudo é imperfeito e diversificado, não vejo outra saída senão nascerem pessoas em todas as circunstâncias possíveis e imagináveis: ricos, pobres, saudáveis, doentes, europeus e asiáticos... deprimidos e normais e, isso, independe de karmas.

Acredito que a curiosidade que tenho sobre esse assunto é tamanha, que sinto o tempo passar vagarosamente, minha ânsia em descobrir a realidade posterior a morte é fascinante e sedutora. Penso no quanto sofremos quando perdemos alguém que amamos, mas penso o quanto o morto sofre ao perder a tudo e a todos. Sim, pois se para nós é difícil perdermos uma só pessoa, para aquele que partiu deve ser enlouquecedor perder a todos. A não ser que haja um plano de desencarne semelhante ao plano do nascimento: nascemos praticamente inconscientes e somos recebidos, acolhidos e sustentados pela família.

As possibilidades são tantas que definitivamente só saberemos ao ultrapassar o portal da morte. No momento resta-nos a fé e a esperança de que Deus é mais sábio, mais inteligente e tem maior amor do que a gente e sabe o que está fazendo.

Cláudio

PS: Uma solução teológica possível seria Romanos 8.20 (paráfrase): "Pois a criação tornou-se vã, fútil e inútil (ματαιότητι) não por sua livre vontade, mas por sua dependência do diabo que a escravizou."





sexta-feira, 18 de outubro de 2019

O idiota com limão na cara

Por Fernando Fabbrini*
Num certo dia de 1995, um sujeito chamado McArthur Wheeler entrou num banco dos EUA logo cedo, assim que as portas se abriram. Calmamente, sem esconder o rosto, sacou uma pistola e anunciou o assalto. Os funcionários não resistiram. Entregaram-lhe uma bolsa com maços de dinheiro e McArthur foi embora.
A cidade era pequena, no interior. Com uma simples olhada nos vídeos da segurança o assaltante foi identificado rapidamente – nome, endereço, tudo. Daí a pouco a polícia chegou à sua casa e o prendeu. McArthur ficou surpreso. Ao ser algemado, disse aos policiais:
- Mas... Como vocês me descobriram? Eu usei sumo de limão no rosto! ...
Ele se referia a um antigo truque no qual se usa sumo do limão para fazer uma “tinta invisível”. É assim: escreva com suco de limão num pedaço de papel, espere secar. As palavras vão sumir e só podem ser lidas se o papel for aquecido na chama de uma vela. Portanto, acreditem: o ingênuo assaltante imaginou que estaria igualmente invisível se passasse suco de limão no rosto, como tinha feito.
O episódio chamou a atenção de David Dunning e Justin Kruger, dois pesquisadores da Universidade de Cornell. Examinaram o caso com profundidade, fizeram entrevistas e constataram que McArthur Wheeler não era louco nem estava sob o efeito de drogas. Era simplesmente... um idiota. Com base na história, os estudiosos conceituaram o Efeito Dunning-Kruger, publicado no Journal of Personality and Social Psychology em dezembro de 1999.
As conclusões são intrigantes e curiosas. Kruger e Dunning descobriram que as pessoas incompetentes desenvolvem uma estranha ilusão de superioridade com relação às próprias capacidades. Estes indivíduos não têm condições de analisarem seus próprios saberes de maneira justa, já que possuem – claro – níveis muito baixos de meta-cognição, ou seja, a capacidade de saber que sabemos. Em outras palavras, são inconscientes de suas próprias ignorâncias.
Diz David Dunning: “se alguém é estúpido, infelizmente não tem meios de saber que o é”. Dunning cita um exemplo engraçado. Alunos que têm regularmente notas baixas muitas vezes se acham muito inteligentes. Já os que dominam de verdade alguma matéria são, com frequência, acometidos de inseguranças, de dúvidas sobre aquele assunto. Não é raro acontecer que estes, que conhecem a matéria a fundo, saírem de uma prova dizendo:
- Hum... Sei lá, acho que fui mal.... – E, no entanto, tiram nota máxima.
Isso porque os que sabem, também sabem que não há fronteiras para o conhecimento; estão sempre insatisfeitos com o que sabem - e buscam mais. Já os chamados incompetentes contentam-se com os próprios limites pelo fato de não saberem medir a própria ignorância.
Portanto, fica um alerta: vale sempre considerar Dunning-Kruger quando nos sentimos absolutamente seguros de alguma coisa. Quem sabe não estaremos – na verdade - sob o efeito do mesmo?  Por outro lado, um alento: ter dúvidas de algo que pensamos dominar é, em compensação, um bom sinal.   
A saída está na busca constante de mais conhecimentos. Leituras, conversas, aulas, perguntas inteligentes ao professor, cursos de especialização, o que for. Não devemos ter medo de parecermos burros; é até melhor. Passando suco de limão na cara e se imaginando um gênio do disfarce, o pobre McArthur Wheller pensava ser muito esperto. Deu ruim.
*Fernando Fabbrini é roteirista, cronista e escritor, com quatro livros publicados. Participa de coletâneas literárias no Brasil e na Itália e publica suas crônicas também às quintas-feiras no jornal O TEMPO.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

DEPRESSIVOS - OS CAMALEÕES DA EXISTÊNCIA 2


Dando sequencia ao meu texto anterior, vamos aos fatos:

A depressão é causada pela deficiência dos neurotransmissores serotonina e dopamina no cérebro, essa é a sua real causa.

Os neurotransmissores, serotonina e dopamina, são os responsáveis pelas sensações de prazer e bem estar, a ciência já provou que a depressão é um desequilíbrio químico provocado pela alteração dos neurotransmissores, substâncias que fazem a comunicação entre as células nervosas, especialmente da noradrenalina e da serotonina.

Isso é um fato científico, tanto as opiniões dos leigos como as suas indicações de “remédios caseiros” como: rezar, ser grato, benzer, frequentar uma religião ou parar de pensar, se jogar no trabalho ou mesmo propalar frasezinhas de filosofia de almanaque como: “depressão é excesso de passado, ansiedade é excesso de futuro. Viva o presente!” Só conseguem nos enfurecer.

Não entende do assunto? Vá estudar e pare de encher o saco!

O silêncio dos ignorantes já é uma bênção, agora, se quiser palpitar, ao menos adquira conhecimento real daquilo que no momento você ignora. Afinal, todos somos ignorantes em vários assuntos e isso não é vergonha alguma, vergonhoso é dar palpites sem o conhecimento real e necessário para tal.

Nossos sentimentos são superlativos, exagerados ao extremo, o que para os “normais” é rotineiro, para o depressivo é tortura chinesa, exemplificando:

Multidões, festas, alegria artificial (bebidas e outras drogas), reuniões familiares com quem não temos afinidade, tipo o Natal e o Ano Novo, churrascos em geral (na empresa...)

Claro que cada pessoa é única e o que me tortura pode não torturar a outro depressivo, pois apenas os sintomas são iguais. Além de que tudo isso dependerá de quem estará nesses encontros, se temos afinidades ou não.
Falação de manhã, então, dá vontade evaporar; à tarde já é um pouquinho mais suportável, dependendo do que nos é dito.

Quanto mais velhos ficamos, menos tempo temos para idiotices. Precisamos de um tempo diário para nós com nós mesmos, sem intromissão, sem interrupção. Isso é fundamental para conseguirmos o equilíbrio diário necessário para atravessar mais um dia.

Você pode pensar que quase ninguém tem tempo pra si, mas lhe respondo que não existe isso para um doente com depressão, pois ou a pessoa tem esse tempo, ou ela surta, a escolha é simples: quer viver numa boa com a gente? Nos dê o necessário para a manutenção da nossa sanidade mental ou colha as consequências.

A outra opção é desaparecer da nossa vida, o que já nos ajudará em muito, caso você seja só mais um problema diário para nós. Já somos “loucos” o suficiente sem a ajuda de quem diz nos amar, mas que de fato, só contribui para inflamar ainda mais a nossa doença mental.
Buscamos o equilíbrio diário e não é nada fácil, se você quebrar o pé, ninguém irá lhe sugerir uma boa caminhada, logo, se a química cerebral está em desequilíbrio, não nos sugira idiotices!

Ninguém com um braço quebrado é levado ao centro espírita, à igreja ou ao psicólogo, mas ao médico ortopedista, logo, não nos indique algo semelhante sugerindo que não temos nada e que apenas estamos dando birra porque somos mimados.
Todos nós nos esforçamos diariamente para manter a sanidade, para fugirmos das crises e mantermos o máximo de normalidade, justamente, porque odiamos sentir o que sentimos.

O pior de tudo isso são os julgamentos e as sugestões de tratamento (sem conhecimento), além das convivências diárias forçadas (ex.: no trabalho), onde somos obrigados a representar como histriões no palco da vida.

Esses são fatos sobre a nossa doença mental, se não gostou, nada podemos fazer. Não somos assim porque gostamos, mas porque temos uma doença.

A escolha de ficar ou partir é individual, logo, mesmo que amemos profundamente alguém, sabemos que não podemos obriga-la a aceitar o fato de que temos uma doença e que variamos “de acordo com uma Lua própria”. Não fazemos de propósito, não simulamos crises, apenas as vivemos e tentamos evita-las ao máximo. Infelizmente, nem sempre conseguimos.

Temos consciência do quão difícil é conviver conosco em muitos e muitos momentos. Sabemos que aqueles que nos amam sofrem muito, mas penso que só o fato desses se informarem da doença, já lhes ajudarão muito para compreender um momento de crise.

Entenda: sua pressão, seu nervosismo, indignação ou esforço para nos tornar pessoas “normais” é vão, inútil e insano. Muitas pessoas que se tornaram depressivas depois de adultos vivem rompimentos definitivos de relacionamentos porque a parte “normal” não aceita a nova condição do parceiro. Isso acontece com profissionais, casais, amigos e familiares.

Não temos depressão porque queremos, nada e nem ninguém conseguirá nos ajudar estuprando nosso emocional, nos ofendendo ou nos obrigando a fazer a vontade dela. Além de não haver a mudança desejada pela pessoa, ainda acionará o gatilho para crises agudas que não sobrará pedra sobre pedra.

Cláudio Nunes Horácio



quarta-feira, 16 de outubro de 2019

DEPRESSIVOS - OS CAMALEÕES DA EXISTÊNCIA

Viver com alterações de humores, em condições de depressão, seja ela mono ou bipolar, nos causam muitos problemas de relacionamentos.

E, não somente problemas conjugais, mas financeiros e profissionais também.

Quando oscilamos muito, há decisões contraditórias num período muito curto de tempo: ora vivemos uma tristeza profunda, ora vivemos uma euforia insana; ora sentimos e pensamos que tudo está errado, que tudo que existe não vale a pena e desistimos da vida; ora exultamos com qualquer coisa rotineira acreditando que mesmo o mais improvável dará certo.

Nesses períodos é que fazemos as maiores imbecilidades, pois ou nos demitimos, divorciamos ou abandonamos tudo e sumimos ou, assumimos dívidas que jamais conseguiremos pagar ou, fazemos promessas e assumimos compromissos impossíveis.

Os remédios nos equilibram de forma a nos tirar do céu e do inferno e nos transporta para o centro, para a realidade, nos permitindo uma estabilidade emocional que evita os extremos, porém nos tira o gosto da vida que fica insossa.

Passamos a sentir menos, infinitamente menos: menos excitados, menos exultantes, menos tristes, melancólicos e pessimistas. Porém, essa mudança de sentimentos também pode causar transtornos, caso a medicação esteja errada.

Remédios ou doses erradas podem nos deixar extremamente nervosos e violentos, impacientes, aflitos, extremistas, superexcitados ou completamente largados e desanimados.

Dependendo do momento amamos alguém profundamente ou o odiamos profundamente. E, o pior é que, no momento, o sentimento é real e verdadeiro, mudando de polo pouco tempo depois.
Depressão é uma doença mental, e “a pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não a tivesse.” (filme “Coringa”).

Lidamos todos os dias com os “normais”, pessoas que desconhecem esse Universo que vivemos e que julgam que esse mundo não existe, que somos mimizentos, mimados e que inventamos estória toda hora.

Sofremos todo tipo de crítica e recebemos inúmeras sugestões:

“Isso é falta de Deus.”
“Você precisa procurar uma religião.”
“A vida é assim pra todo mundo.”
“Você precisa reagir.”
“Você é esquisito demais, tem que mudar.”
“Eu já tive depressão e superei, reagi.”
“Você tem tudo para ser feliz.”
“Tem gente muito pior que você no mundo.”
“Problema quem tem são os famintos da África.”
“Depressão é coisa de rico, pobre não pode ter depressão, senão morre de fome.”

E por aí vão às pérolas, com seus julgamentos e veredictos diários, por isso escondemos a nossa doença mental, camuflamos, ocultamos ao máximo, porém, qualquer um que tiver o interesse em observar, detectará a doença rapidamente, pois nossas atitudes nos denunciam às pessoas esclarecidas.

Claro que sempre tem um jumento bem sucedido que se julga o esperto porque conseguiu adquirir um monte de quinquilharias materiais que não poderá levar para o túmulo e, que, se especializou em palpitar na vida de quem julga inferior a ele por não possuir o que ele tem.

Esses são os especialistas de almanaque, relacionam sucesso material com inteligência, o que definitivamente não tem nada a ver com inteligência, mas como vivem sob o efeito Dunning-Kruger, esses ultracrepidários adoram julgar, difamar e palpitar na vida de quem lhes permite isso. O pior é que os “normais” realmente acreditam que esses são superiores, já que possuem mais que eles. Ridículo!

Diante do exposto, só posso dizer que vivo isso desde pequeno, há muitos e muitos anos sei disso, mesmo que nunca lhes tenha dito. Perdi empregos e mais empregos, namoradas, paixões, casamentos, dinheiro e saúde tentando viver de forma “normal.

A minha sorte é que disfarço bem, apesar de que ultimamente não tenho feito a menor questão de esconder nada de ninguém.

Parece que depois de 54 anos, aprendi a ligar a tecla “FODA-SE!”.

Sou assim e ponto final!

Cláudio Nunes Horácio