Dando sequencia ao meu texto anterior,
vamos aos fatos:
A depressão é causada pela deficiência
dos neurotransmissores serotonina e dopamina no cérebro, essa é a sua real
causa.
Os neurotransmissores, serotonina
e dopamina, são os responsáveis pelas sensações de prazer e bem estar, a
ciência já provou que a depressão é um desequilíbrio químico provocado pela
alteração dos neurotransmissores, substâncias que fazem a comunicação entre as
células nervosas, especialmente da noradrenalina e da serotonina.
Isso é um fato científico, tanto as
opiniões dos leigos como as suas indicações de “remédios caseiros” como: rezar,
ser grato, benzer, frequentar uma religião ou parar de pensar, se jogar no
trabalho ou mesmo propalar frasezinhas de filosofia de almanaque como: “depressão
é excesso de passado, ansiedade é excesso de futuro. Viva o presente!” Só
conseguem nos enfurecer.
Não entende do assunto? Vá
estudar e pare de encher o saco!
O silêncio dos ignorantes já é
uma bênção, agora, se quiser palpitar, ao menos adquira conhecimento real
daquilo que no momento você ignora. Afinal, todos somos ignorantes em vários
assuntos e isso não é vergonha alguma, vergonhoso é dar palpites sem o
conhecimento real e necessário para tal.
Nossos sentimentos são
superlativos, exagerados ao extremo, o que para os “normais” é rotineiro, para
o depressivo é tortura chinesa, exemplificando:
Multidões, festas, alegria
artificial (bebidas e outras drogas), reuniões familiares com quem não temos
afinidade, tipo o Natal e o Ano Novo, churrascos em geral (na empresa...)
Claro que cada pessoa é única e o
que me tortura pode não torturar a outro depressivo, pois apenas os sintomas
são iguais. Além de que tudo isso dependerá de quem estará nesses encontros, se
temos afinidades ou não.
Falação de manhã, então, dá
vontade evaporar; à tarde já é um pouquinho mais suportável, dependendo do que
nos é dito.
Quanto mais velhos ficamos, menos
tempo temos para idiotices. Precisamos de um tempo diário para nós com nós
mesmos, sem intromissão, sem interrupção. Isso é fundamental para conseguirmos
o equilíbrio diário necessário para atravessar mais um dia.
Você pode pensar que quase
ninguém tem tempo pra si, mas lhe respondo que não existe isso para um doente
com depressão, pois ou a pessoa tem esse tempo, ou ela surta, a escolha é
simples: quer viver numa boa com a gente? Nos dê o necessário para a manutenção
da nossa sanidade mental ou colha as consequências.
A outra opção é desaparecer da
nossa vida, o que já nos ajudará em muito, caso você seja só mais um problema
diário para nós. Já somos “loucos” o suficiente sem a ajuda de quem diz nos
amar, mas que de fato, só contribui para inflamar ainda mais a nossa doença
mental.
Buscamos o equilíbrio diário e
não é nada fácil, se você quebrar o pé, ninguém irá lhe sugerir uma boa caminhada,
logo, se a química cerebral está em desequilíbrio, não nos sugira idiotices!
Ninguém com um braço quebrado é
levado ao centro espírita, à igreja ou ao psicólogo, mas ao médico ortopedista,
logo, não nos indique algo semelhante sugerindo que não temos nada e que apenas
estamos dando birra porque somos mimados.
Todos nós nos esforçamos
diariamente para manter a sanidade, para fugirmos das crises e mantermos o
máximo de normalidade, justamente, porque odiamos sentir o que sentimos.
O pior de tudo isso são os
julgamentos e as sugestões de tratamento (sem conhecimento), além das
convivências diárias forçadas (ex.: no trabalho), onde somos obrigados a
representar como histriões no palco da vida.
Esses são fatos sobre a nossa
doença mental, se não gostou, nada podemos fazer. Não somos assim porque
gostamos, mas porque temos uma doença.
A escolha de ficar ou partir é
individual, logo, mesmo que amemos profundamente alguém, sabemos que não
podemos obriga-la a aceitar o fato de que temos uma doença e que variamos “de
acordo com uma Lua própria”. Não fazemos de propósito, não simulamos crises,
apenas as vivemos e tentamos evita-las ao máximo. Infelizmente, nem sempre
conseguimos.
Temos consciência do quão difícil
é conviver conosco em muitos e muitos momentos. Sabemos que aqueles que nos
amam sofrem muito, mas penso que só o fato desses se informarem da doença, já
lhes ajudarão muito para compreender um momento de crise.
Entenda: sua pressão, seu
nervosismo, indignação ou esforço para nos tornar pessoas “normais” é vão,
inútil e insano. Muitas pessoas que se tornaram depressivas depois de adultos
vivem rompimentos definitivos de relacionamentos porque a parte “normal” não
aceita a nova condição do parceiro. Isso acontece com profissionais, casais,
amigos e familiares.
Não temos depressão porque
queremos, nada e nem ninguém conseguirá nos ajudar estuprando nosso emocional, nos
ofendendo ou nos obrigando a fazer a vontade dela. Além de não haver a mudança
desejada pela pessoa, ainda acionará o gatilho para crises agudas que não
sobrará pedra sobre pedra.
Cláudio Nunes Horácio
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