As mudanças ocorridas no mundo nos últimos 50 anos
transformaram a sociedade de forma profunda. Nossas tradições foram
substituídas pelo pensamento prático e egoísta.
As famílias se perderam ao investirem tudo no “ter”, no
adquirir e no possuir, abandonando definitivamente o “ser” e a proximidade que
o fazer parte de um grupo familiar nos garantia de intimidade.
Estamos a cada dia mais distantes uns dos outros, mesmo que
vivamos sob um mesmo teto. A solidão a dois, a três, a quatro ou a cinco grita
escandalosamente em meio às convulsões sociais que criamos.
A vida simples, satisfatória e com poucas aspirações
materiais foi deixada para trás. Isso dispersou os membros das famílias, os
espalhando para todas as direções. Alguns conseguem se equilibrar nessa
correria insana, outros, se perdem em meio ao crime, às drogas, o
estabelecimento de outras diversas famílias que não têm continuidade e muito
menos base ou estrutura para sobreviverem.
Da frequência às missas ou aos cultos protestantes, do
assentar-se à mesa para as refeições ou o reunir-se em volta da TV a noite,
tudo se perdeu em meio aos aparelhos celulares, as Redes sociais e o descaso
com o qual passamos a nos relacionar.
Não há mais comunhão, apenas desunião; o tempo em família e
em igreja se perdeu, acabou!
Os domingos já nada representam,
apenas tornaram-se momentos de ociosidade que garantem as glutonarias e as bebedeiras,
as conversas improdutivas, insossas, insanas e abjetas de quem nada de bom tem
a oferecer para si, para o próximo, para a vida ou para o mundo.
Nenhuma consciência é estimulada,
valorizada ou ambicionada; não há mais a espera gostosa dos horários de
reflexão espiritual dos cultos ou das missas dominicais.
Ninguém mais se sente aquecido
com as antigas matérias fantásticas do Show da vida – O Fantástico, que nos
trazia inúmeras reportagens daquilo que desconhecíamos, ao ponto de nos deixar boquiabertos.
Aos domingos, após o jantar, as
famílias se reuniam na sala em frente a única TV que havia na casa para admirar
os efeitos maravilhosos da abertura do Show da vida, criados pelo designer
alemão Hans Donner.
Não existiam Redes sociais, celulares
ou internet, ninguém sequer imaginava uma foto digital, um Photoshop, um Facebook
ou um Whatsapp. Conversávamos com aqueles que estavam próximos e,
eventualmente, escrevíamos cartas ou telefonávamos rapidamente para os que estavam
longe.
Quando acabava a energia elétrica,
acendíamos as velas, sentávamos em círculo e contávamos histórias, relembrávamos
momentos e revíamos as lendas urbanas que tanto nos amedrontava. Eram momentos
especiais, em família, com os corações aquecidos e próximos. Mesmo que algumas
coisas materiais nos faltassem; amor, união e comunhão sempre eram abundantes.
Havia respeito mútuo, liderança,
disciplina, boa vontade, obediência, colaboração. Todos sabiam seus deveres e
suas obrigações, não era pesado para ninguém.
Os mais novos começavam a
trabalhar bem cedo, não havia a interferência do governo na família com a criação
de leis absurdas obrigando os pais a sustentarem filhos vagabundos.
O que havia era as instruções dos
clérigos, que orientavam os pais em como deveria ser uma educação cristã para a
formação de um Homem de bem.
As crianças não se intrometiam
nas conversas dos adultos, não os respondiam, jamais davam birras e nunca eram
consultadas a respeito daquilo que queriam comer, a que horas queriam dormir ou
coisas semelhantes. Os pais determinavam como seriam suas vidas e suas rotinas e
ponto final.
Nas escolas os professores eram
deuses respeitados, possuíam o conhecimento que precisávamos, confiávamos
neles. Suas opiniões, palavras e atitudes nos influenciava, nos confortava ou
apavorava, dependendo da situação.
Eram verdadeiros arquétipos da
sabedoria e do conhecimento, suas opiniões realmente importavam, pois ninguém
tinha a pretensão de saber tanto quanto eles sem jamais ter estudado, como
acontece hoje com os “especialistas” de Facebook.
Eram doutores do saber, um saber
que não aprenderam nalgum site vagabundo ou nalgum Youtube da vida, mas nas
academias literárias, nos cursos superiores, com dedicação e zelo.
Enfim, essa é uma vida que se
perdeu em meio a modernidade, onde tudo é superficial e virtual, onde nada e
nem ninguém é levado a sério.
Infelizmente, ganhamos as
tecnologias, mas perdemos a alma; o ideal seria se preservássemos as tradições
e usássemos as tecnologias em nosso benefício.
Não era preciso vender a alma
para que o progresso viesse, aliás, o sensato sempre foi preservar a alma
enquanto usufruímos do progresso, da tecnologia e de tudo aquilo que evolui
para nos proporcionar conforto.
A alma é uma tecnologia divina,
logo, não foi feita para se perder, mas para nos dirigir e nos conduzir aos
bons caminhos: à vida, à paz e ao amor.
Cláudio Nunes Horácio