terça-feira, 4 de agosto de 2015

ARQUIVOS DO CORAÇÃO

Um dia desses estava pensando sobre as recordações impressas ou filmadas, fotos e vídeos, que guardamos como forma de armazenar a felicidade fugaz vivida ao longo da nossa história.

Os sorrisos, os olhares, os aromas, o calor da emoção e as câimbras da comoção da alma não são confináveis, porém, o é o armazenamento das suas imagens. Por isso fotografamos: para congelarmos a felicidade e a carregarmos no tempo e na história; por isso filmamos: para revivermos emoções importantes, recordar cada detalhe que vai desde os sorrisos mais felizes aos olhares mais significativos.

Com imagens gravadas ou impressas, podemos acompanhar o desenvolvimento de nossos filhos, salvar períodos que passarão e que não voltarão jamais. Além disso, podemos mostrar a eles o que suas memórias já esqueceram: suas infâncias, momentos engraçados ou assustadores vividos por eles e, nos quais, não se recordam por terem sido vivenciados quando muito jovenzinhos.

Lembramos daqueles que se foram, que morreram antes de nós; ou pessoas que não fazem mais parte do nosso convívio, mas que tiveram um grande significado para nós: amigos que partiram e que hoje estão geograficamente longe de nós.

Por outro lado, há boas razões para que o nosso cérebro arquive e bloqueie o processo das lembranças, talvez a mais importante de todas seja que a felicidade encontra-se em viver no momento presente, não no passado e não no futuro.

Além disso, muitas pessoas tiveram importância temporária em nossas vidas, como ex-cônjuges ou namorados e, por isso, hoje já não significam nada para nós, o que torna o armazenamento das memórias em vídeos e fotografias inúteis. Por isso é bom reciclar e não levar bagagem inútil. Pegue suas fotos inúteis, seus vídeos vãos e jogue-os fora, caminhe mais leve, pois um dos motivos de não nos lembrarmos com detalhes de todos os acontecimentos e vivências é exatamente esse: caminharmos mais leves, apenas transportando a bagagem mínima necessária de passado.

Mas se é assim, por que tiramos tantas fotografias quando estamos vivendo algo especial? Porque geralmente “algo muito especial” só tem sentido no presente, e sempre achamos que se é especial não acabará jamais, mas muitas vezes o que é especial hoje, amanhã será desprezível ou talvez, insignificante diante do presente. Noutras, o desfecho da felicidade foi tão sem traumas significativos, que a própria história se encarrega de eternizar tais momentos. Isso acontece quando a pessoa do passado é tão especial no presente como foi no passado, aí sim poderemos preservar as imagens que armazenamos, porque ganharam sentidos eternos e não nos pesará na alma, pelo contrário, nos dará alegrias quando quisermos relembrar. Mas não é isso o que geralmente acontece, o comum é que os desfechos, o fim dessas paixões se encarregue de estragar tudo o que vivemos e, portanto, cada memória trará mais dor do que prazer, tornando-se em cargas inúteis.

A natureza dos nossos arquivos de memória nos auxilia a desapegar e a viver no agora, por isso a felicidade encontra-se em viver no presente. O acúmulo de imagens e memórias em mídias digitais ou impressas é uma criação humana, algo excelente nalguns aspectos, mas que só tem valor para preservar o que foi, é, e continuará sendo digno de ser recordado.

Cláudio



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