Um dia desses estava pensando sobre as recordações impressas
ou filmadas, fotos e vídeos, que guardamos como forma de armazenar a felicidade
fugaz vivida ao longo da nossa história.
Os sorrisos, os olhares, os aromas, o calor da emoção e as câimbras
da comoção da alma não são confináveis, porém, o é o armazenamento das suas
imagens. Por isso fotografamos: para congelarmos a felicidade e a carregarmos
no tempo e na história; por isso filmamos: para revivermos emoções importantes,
recordar cada detalhe que vai desde os sorrisos mais felizes aos olhares mais
significativos.
Com imagens gravadas ou impressas, podemos acompanhar o
desenvolvimento de nossos filhos, salvar períodos que passarão e que não
voltarão jamais. Além disso, podemos mostrar a eles o que suas memórias já
esqueceram: suas infâncias, momentos engraçados ou assustadores vividos por eles
e, nos quais, não se recordam por terem sido vivenciados quando muito
jovenzinhos.
Lembramos daqueles que se foram, que morreram antes de nós;
ou pessoas que não fazem mais parte do nosso convívio, mas que tiveram um
grande significado para nós: amigos que partiram e que hoje estão geograficamente
longe de nós.
Por outro lado, há boas razões para que o nosso cérebro arquive
e bloqueie o processo das lembranças, talvez a mais importante de todas seja
que a felicidade encontra-se em viver no momento presente, não no passado e não
no futuro.
Além disso, muitas pessoas tiveram importância temporária em
nossas vidas, como ex-cônjuges ou namorados e, por isso, hoje já não significam
nada para nós, o que torna o armazenamento das memórias em vídeos e fotografias
inúteis. Por isso é bom reciclar e não levar bagagem inútil. Pegue suas fotos
inúteis, seus vídeos vãos e jogue-os fora, caminhe mais leve, pois um dos
motivos de não nos lembrarmos com detalhes de todos os acontecimentos e
vivências é exatamente esse: caminharmos mais leves, apenas transportando a
bagagem mínima necessária de passado.
Mas se é assim, por que tiramos tantas fotografias quando
estamos vivendo algo especial? Porque geralmente “algo muito especial” só tem
sentido no presente, e sempre achamos que se é especial não acabará jamais, mas
muitas vezes o que é especial hoje, amanhã será desprezível ou talvez,
insignificante diante do presente. Noutras, o desfecho da felicidade foi tão
sem traumas significativos, que a própria história se encarrega de eternizar
tais momentos. Isso acontece quando a pessoa do passado é tão especial no
presente como foi no passado, aí sim poderemos preservar as imagens que
armazenamos, porque ganharam sentidos eternos e não nos pesará na alma, pelo
contrário, nos dará alegrias quando quisermos relembrar. Mas não é isso o que
geralmente acontece, o comum é que os desfechos, o fim dessas paixões se
encarregue de estragar tudo o que vivemos e, portanto, cada memória trará mais
dor do que prazer, tornando-se em cargas inúteis.
A natureza dos nossos arquivos de memória nos auxilia a
desapegar e a viver no agora, por isso a felicidade encontra-se em viver no
presente. O acúmulo de imagens e memórias em mídias digitais ou impressas é uma
criação humana, algo excelente nalguns aspectos, mas que só tem valor para
preservar o que foi, é, e continuará sendo digno de ser recordado.
Cláudio
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