quinta-feira, 17 de outubro de 2019

DEPRESSIVOS - OS CAMALEÕES DA EXISTÊNCIA 2


Dando sequencia ao meu texto anterior, vamos aos fatos:

A depressão é causada pela deficiência dos neurotransmissores serotonina e dopamina no cérebro, essa é a sua real causa.

Os neurotransmissores, serotonina e dopamina, são os responsáveis pelas sensações de prazer e bem estar, a ciência já provou que a depressão é um desequilíbrio químico provocado pela alteração dos neurotransmissores, substâncias que fazem a comunicação entre as células nervosas, especialmente da noradrenalina e da serotonina.

Isso é um fato científico, tanto as opiniões dos leigos como as suas indicações de “remédios caseiros” como: rezar, ser grato, benzer, frequentar uma religião ou parar de pensar, se jogar no trabalho ou mesmo propalar frasezinhas de filosofia de almanaque como: “depressão é excesso de passado, ansiedade é excesso de futuro. Viva o presente!” Só conseguem nos enfurecer.

Não entende do assunto? Vá estudar e pare de encher o saco!

O silêncio dos ignorantes já é uma bênção, agora, se quiser palpitar, ao menos adquira conhecimento real daquilo que no momento você ignora. Afinal, todos somos ignorantes em vários assuntos e isso não é vergonha alguma, vergonhoso é dar palpites sem o conhecimento real e necessário para tal.

Nossos sentimentos são superlativos, exagerados ao extremo, o que para os “normais” é rotineiro, para o depressivo é tortura chinesa, exemplificando:

Multidões, festas, alegria artificial (bebidas e outras drogas), reuniões familiares com quem não temos afinidade, tipo o Natal e o Ano Novo, churrascos em geral (na empresa...)

Claro que cada pessoa é única e o que me tortura pode não torturar a outro depressivo, pois apenas os sintomas são iguais. Além de que tudo isso dependerá de quem estará nesses encontros, se temos afinidades ou não.
Falação de manhã, então, dá vontade evaporar; à tarde já é um pouquinho mais suportável, dependendo do que nos é dito.

Quanto mais velhos ficamos, menos tempo temos para idiotices. Precisamos de um tempo diário para nós com nós mesmos, sem intromissão, sem interrupção. Isso é fundamental para conseguirmos o equilíbrio diário necessário para atravessar mais um dia.

Você pode pensar que quase ninguém tem tempo pra si, mas lhe respondo que não existe isso para um doente com depressão, pois ou a pessoa tem esse tempo, ou ela surta, a escolha é simples: quer viver numa boa com a gente? Nos dê o necessário para a manutenção da nossa sanidade mental ou colha as consequências.

A outra opção é desaparecer da nossa vida, o que já nos ajudará em muito, caso você seja só mais um problema diário para nós. Já somos “loucos” o suficiente sem a ajuda de quem diz nos amar, mas que de fato, só contribui para inflamar ainda mais a nossa doença mental.
Buscamos o equilíbrio diário e não é nada fácil, se você quebrar o pé, ninguém irá lhe sugerir uma boa caminhada, logo, se a química cerebral está em desequilíbrio, não nos sugira idiotices!

Ninguém com um braço quebrado é levado ao centro espírita, à igreja ou ao psicólogo, mas ao médico ortopedista, logo, não nos indique algo semelhante sugerindo que não temos nada e que apenas estamos dando birra porque somos mimados.
Todos nós nos esforçamos diariamente para manter a sanidade, para fugirmos das crises e mantermos o máximo de normalidade, justamente, porque odiamos sentir o que sentimos.

O pior de tudo isso são os julgamentos e as sugestões de tratamento (sem conhecimento), além das convivências diárias forçadas (ex.: no trabalho), onde somos obrigados a representar como histriões no palco da vida.

Esses são fatos sobre a nossa doença mental, se não gostou, nada podemos fazer. Não somos assim porque gostamos, mas porque temos uma doença.

A escolha de ficar ou partir é individual, logo, mesmo que amemos profundamente alguém, sabemos que não podemos obriga-la a aceitar o fato de que temos uma doença e que variamos “de acordo com uma Lua própria”. Não fazemos de propósito, não simulamos crises, apenas as vivemos e tentamos evita-las ao máximo. Infelizmente, nem sempre conseguimos.

Temos consciência do quão difícil é conviver conosco em muitos e muitos momentos. Sabemos que aqueles que nos amam sofrem muito, mas penso que só o fato desses se informarem da doença, já lhes ajudarão muito para compreender um momento de crise.

Entenda: sua pressão, seu nervosismo, indignação ou esforço para nos tornar pessoas “normais” é vão, inútil e insano. Muitas pessoas que se tornaram depressivas depois de adultos vivem rompimentos definitivos de relacionamentos porque a parte “normal” não aceita a nova condição do parceiro. Isso acontece com profissionais, casais, amigos e familiares.

Não temos depressão porque queremos, nada e nem ninguém conseguirá nos ajudar estuprando nosso emocional, nos ofendendo ou nos obrigando a fazer a vontade dela. Além de não haver a mudança desejada pela pessoa, ainda acionará o gatilho para crises agudas que não sobrará pedra sobre pedra.

Cláudio Nunes Horácio



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